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O Capitão Pedro Teixeira é considerado o maior vulto militar do Brasil colonial, sendo um dos principais responsáveis pela conquista da Amazônia, de lá expulsando estrangeiros no século XVII

Os Gigantes da Nacionalidade Brasileira - 1

Pedro Teixeira

Nas lutas pela expansão, posse, defesa e consolidação do território da nossa Pátria, ao longo dos déculos, lusos, luso-brasileiros e brasileiros não faziam distinção de suas origens, de seus torrões-natais. Eram todos irmãos. Brasil e Portugal formavam um corpo só.

Nosso Brasil foi, inclusive, sede do reino - decisão do monarca português sem paralelo na Europa. D. João VI foi o único monarca europeu que, em face das invasões napoleônicas, preferiu manter a dinastia em uma colônia longínqua, fora do continente europeu, a todo risco. Poderia ter usufruído de um exílio dourado na Inglaterra. Assim, consideramos os heróis de todas aquelas pelejas como irmãos nacionais, que se batiam com um objetivo único, independentemente de sua origem natal.

Na exploração, expansão e colonização da Amazônia avulta a figura extraordinária e singular do capitão-mor Pedro Teixeira (Catanhede, Portugal - 1587 / Belém, PA - 1641). Sua vida admirável foi de lutas vitoriosas, constantes, contra ingleses, franceses e holandeses.

Ainda como alferes bateu-se heroicamente contra os franceses na Batalha de Guaxenduba (12 -fev-1614) e os holandeses em diferentes oportunidades, a partir de 1616. Foi co-partícipe de Francisco Caldeira Castelo Branco na conquista do Pará e na fundação de Belém.

Incumbido de abrir a comunicação terrestre fluvial entre o Pará e o Maranhão, combateu novamente os holandeses, havendo, no meio-tempo, destruído todos os fortins erigidos pelos ingleses, franceses e holandeses ao longo do baixo-Amazonas.

Muito significativa foi a expulsão de ingleses e holandeses do Gurupá em 1625. Pedro Teixeira foi Capitão-mor do Pará em dois períodos: 1620-1621 e 1640-1641.

É indispensável considerar, para se ter uma macro-visão histórica da importância da ação de Pedro Teixeira, que o Vice-Reino do Grão Pará foi, por muito tempo, mais importante econômica e politicamente, do que o Vice-Reino do Brasil (nosso território iria ser dividido entre esses dois vice-reinos, por razões de administração e de defesa). Lá no Grão-Pará estavam, por exemplo, os maiores estaleiros do Reino, onde eram construídos mais de 90% dos navios. Lá ficava a concentração de mão de obra especializada, como armeiros, metalúrgicos e carpinteiros navais. O Vice-Reino do Brasil era apenas agrário.

O magno feito de Pedro Teixeira foi comandar a expedição que subiu o Amazonas e assegurou a posse luso-brasileira no rio Napo (hoje território colombiano). Ele partiu de Cametá, no Tocantins, onde havia demolido fortins de invasores, anos antes.

Sua expedição tinha cerca de 2.500 pessoas embarcadas em meia centena de grandes canoas a vinte remos, onde iam os combatentes, afora vinte e tantas outras pequenas que transportavam as famílias, munições e provisões. As famílias na expedição constituem um claro atestado do objetivo de colonização daqueles confins. No contingente havia apenas 70 luso-brasileiros e 4 espanhóis. Os homens restantes eram índios remeiros e "de peleja". Navegaram rio acima, a remo, por oito meses e quatro dias, até atingir a primeira povoação espanhola.

Pedro Teixeira continuou até Quito, na cordilheira dos Andes, já próximo ao oceano Pacífico. Lá fez junção com a "ponta" que havia sido lançada naquela direção, quando a expedição atingira a embocadura do Napo. Na volta, fundou Franciscana, hoje Tabatinga, sentinela avançada de nossa fronteira oeste, onde o portentoso Amazonas pede permissão para entrar no Brasil.

A expedição de Pedro Teixeira possibilitou a posse de todo o território do Solimões, só completada em fins daquele século. Ele havia lançado as bases da conquista de todas aquelas imensas glebas, muito reclamadas pelos espanhóis. Filipe IV de Espanha assustou-se com a façanha de Pedro Teixeira e chegou a proibir quaisquer relações entre seus súditos dos Andes e os portugueses. Foi uma antevisão geopolítica da ameaça do leste.

O colossal e lendário Amazonas é um acidente geográfico esplendoroso, sem par no planeta. De fato, o "Mar Dulce" dos espanhóis é aquela extraordinária massa de água doce, fenomenal, que estasia o viajante, hipnotizado pela imagem de força e de imensidão. O impacto em quem penetra em sua foz é indescritível. Pois foi Pedro Teixeira, aquele gigante da nossa história, absolutamente digno dele por sua determinação, coragem, tenacidade, magnífical liderança e demais qualidades que um militar de escól deve possuir. Pedro Teixeira encarnava o espírito indômito dos primeiros Borgonhas de Porto Cale, dos combatentes de Navas de Tolosa, de Alcácer Quibir, de Aljubarrota, do Guadalquivir e dos grandes conquistadores do "Mar Tenebroso".

O Exército Brasileiro é herdeiro e continuador daquele herói da nacionalidade. Certamente, ele, lá na eternidade, ainda está a proteger nosso Amazonas da cobiça descarada dos argentários estrangeiros imperialistas e seus asseclas desnacionalizados.

O eminente historiador militar General Francisco de Paula Cidade, em sua obra "Síntese de Três Séculos da Literatura Militar Brasileira", menciona:

"Até hoje não foi erigido à entrada do Rio Amazonas, o monumento que a gratidão brasileira deve ao sertanista, cuja obra precursora constituiu o primeiro ponto de apoio para a doutrina do "uti-possidetis", mais tarde sustentada pela diplomacia imperial, e que tem sido um fator de bom entendimento entre o Brasil e seus vizinhos. A extensão da brasilidade a uns dois terços da bacia hidrográfica do rio Amazonas foi um trabalho do qual tomaram parte várias gerações, mas o pioneirismo de Pedro Teixeira nunca foi excedido.

(Transcrição feita na "História do Exército Brasileiro" - Primeiro Volume, pág. 228 - Estado Maior do Exército - 1972)

(Esta singela evocação é dedicada a S.Excia o Gen.Ex.Ref. Enio Gouveia dos Santos, originário da Cavalaria, o mais brilhante instrutor de Tática e de História Militar e de História Militar nos meus tempos de caserna).


"Oh! Não... Que sois filhos do povo dos bravos...

Sois filhos hercúleos do hercúleo cruzeiro...

Sabeis esta história... quem é que não sabe-a?...

Quem é?... Se não sabe-a, não é Brasileiro"

Castro Alves

O texto desta edição é de Frederico Pamplona,
Cel. Cav. e E.M.Ref.

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