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Como o submarino mergulha?
do Comandante Marco Polo A. C. de Souza, da Marinha do Brasil. Rio de Janeiro: Serviço de Documentação Geral da Marinha, 1986. "Nunca engenho de destruição fez dar ao homem mais largo
passo para os seus ideais de civilização." 1- Introdução A surpresa e a ousadia sempre andaram juntas. Uma e outra se completam no binômio ideal de concorrer ao sucesso. Isso é verossímil, particularmente, no campo militar, onde um golpe inesperado, aplicado com surpreendente audácia, põe a bater em retirada o inimigo atônito, quando não, a vergar incrédula a humilhante bandeira do adversário derrotado. O submarino, mais que qualquer outra arma, se encaixa e se identifica nesse pensamento. A História Naval Militar registra, em vasto repertório, exemplos os mais diversos de operações bem-sucedidas; de submarinos, os quais, apesar da prontidão e vigilância inimigas, cumpriram as suas missões, valendo-se do princípio básico da surpresa, aliado à vocação audaciosa de seus comandantes e ao destemor de suas tripulações. Feitos épicos de ações de submarinos estão registrados nos anais da história. Como ilustração, citamos alguns destaques: a guerra irrestrita dos submarinos alemães, empregada no bloqueio britânico (1917), durante a Primeira Guerra Mundial, tornando. se causa direta da entrada dos Estados Unidos no conflito; a sensacional penetração em Scapa Flow, por Gunther Prien, comandante do submarino alemão U-47, ocasionando o afundamento do encouraçado britânico ROYAL OAK (out. 1939); o histórico ataque ao grande encouraçado alemão TIRPITZ, cujos danos o imobilizaram por seis meses, infligidos por submarinos-de-bolso britânicos (set. 1943); o sucesso da tática de "matilha" empregada pelos submarinos alemães (RUDELTATIK) de Doenitz, sobre as rotas comerciais aliadas, utilizando o princípio da concentração (Segunda Guerra Mundial); a retumbante companha submarina americana contra a marinha mercante nipônica e sua importância no estrangulamento das comunicações japonesas (Segunda Guerra Mundial). Os eventos citados foram provas irrefutáveis da grande importância do submarino como arma de guerra. Nos dias atuais, em que a sofisticação dos sistemas de armas e sensores navais exige uma continuada pesquisa e um desenvolvimento cada vez maior na indústria naval militar, cumpre o submarino o seu papel fundamental de estar sempre um passo adiante, no complexo mundo do conhecimento tecnológico. O submarino vem se afigurando, indubitavelmente, como fator ponderável de força e de deterrência. Apesar da acelerada renovação de tecnologia a que assistimos, em termos de aperfeiçoamentos introduzidos nos equipamentos de detecção e alarme, nos sistemas de busca e acompanhamento, de direção de tiro e de contramedidas, ainda assim, o submarino, habitante das profundezas, explorador diligente das condições batitermográficas, estará gozando do privilégio da invisibilidade pela ocultação. Ao inimigo da superfície caberá sempre a indesejável parcela de incerteza, a despeito da eficácia do seu serviço de informações, da proficiência dos seus operadores sonar e do desempenho dos seus equipamentos de detecção. Onde estará o submarino? Este, oculto e silencioso, responderá tomando a iniciativa das ações. FOGO! 2- Mas, o que é um submarino? A pergunta mais freqüente que um leigo faz a um submarinista é a seguinte: "Tem janelinha para ver o fundo do mar?" Desculpe-nos o leitor, caso considere-se um leigo não propriamente enquadrado no tipo acima. Todavia, o fato é que a maioria das pessoas, ao comparecer a bordo durante as visitações abertas ao público, se sente fascinada e, à falta de maiores conhecimentos e a fim de satisfazer a sua curiosidade, faz a pergunta, naturalmente. O submarino é uma arma. Uma poderosa arma. Um navio de guerra que tem a possibilidade de navegar submerso, com o propósito de valer-se de um dos mais importantes princípios da guerra naval: a surpresa, obtida pela ocultação. O submarino é, por excelência, uma arma ofensiva. Na medida em que a esquadra pretende o domínio do mar, o submarino objetiva negar o seu uso. E, basicamente, ele o faz promovendo ataques torpédicos ao tráfego marítimo e às forças navais. Evidentemente, o emprego de submarinos comporta variados tipos de tarefas. O próprio submarino enseja uma classificação em variados tipos básicos: quanto ao sistema de propulsão, convencionais e nucleares; quanto ao emprego, submarinos de ataque, submarinos lançadores de mísseis estratégicos (SLME), submarinos especiais e submarinos auxiliares. O armamento característico do submarino é o torpedo. Pode, entretanto, dependendo do tipo e da plataforma, levar mísseis táticos, estratégicos, minas e mergulhadores de combate. Os sensores mais característicos são os pericóspios e os sonares, respectivamente, os olhos e os ouvidos do Comandante. 3- Como o submarino mergulha? Arquimedes, quando descobriu que todo corpo sólido, mergulhado em um meio líquido, sofre um empuxo de baixo para cima igual ao peso do volume líquido deslocado, abriu o caminho para a conquista do mundo submarino. Vamos começar dizendo que o submarino é, antes de mergulhar, um navio (normalmente) preto, misterioso, diferente dos demais. E, é claro, fascinante! Esse navio possui um casco resistente, em forma de charuto, dentro do qual coabitam homens e equipamentos. O casco externo, ou envolvente, é o grande segredo: ele é repartido, basicamente, em diversos tanques de lastro, parcialmente alagados pela água do mar quando está na superfície. Forçada pelo peso do navio, a água entra naturalmente pelas aberturas de alagamento, distribuídas no fundo, mantendo um colchão de ar na parte superior desses tanques, o qual chamamos reserva de flutuabilidade. Dito isso, soa o alarme de imersão: baúa, baúa, mergulhar! mergulhar! Para fazer o nosso navio mergulhar é simples: basta torná-lo tão pesado que afunde. Para que isto ocorra é necessário expulsar aquele colchão de ar que ficou represado. Ao abrir válvulas especiais denominadas suspiros, localizadas no topo dos tanques de lastro (e comandadas hidraulicamente de dentro do submarino), ouvir-se-á um forte e característico ruído. A água invadirá todos os espaços dos tanques e o navio, adquirindo flutuabilidade negativa, submergirá. Entretanto, se não tivéssemos o conhecimento do Princípio de Arquimedes, nós jamais seríamos tripulantes desse navio que acabamos de afundar. Por isso, a fim de evitar que ele vá literalmente a pique, é preciso fazê-lo adquirir flutuabilidade neutra, ou seja, fazer o seu peso igual ao da massa líquida destacada. Isso é obtido por meio de três providências: primeira, tão logo o navio mergulha, um tanque especial chamado tanque de rápida ímersão (e que está sempre alagado na superfície) é esgotado a ar comprimido, de modo a subtrair determinada quantidade de água; segunda, com o uso de bombas hidráulicas, o Oficial de Águas efetua manobras de transferência de água em tanques especiais internos, os tanques de compensação e os tanques de trímagem, a fim de equilibrar o peso total e a sua distribuição longitudinal; terceira providência: o uso dos lemes horizontais à vante e à ré, bem como o concurso dos eixos propulsores tornam o navio capaz de navegar submerso, com a imprescindível sustentação. A vinda à superfície, ou emersão, é a manobra inversa: obter a flutuabilidade positiva. Para tal, mantendo os suspiros dos tanques de lastro fechados, basta ordenar: ar aos lastros! A água é então expulsa por meio, de ar comprimido de alta pressão e o submarino sobe com o auxílio das máquinas propulsoras e lemes horizontais para cima. Assim, levando-nos a bordo, o nosso navio transformou-se num verdadeiro submarino. Devemos ressalvar, entretanto, que os conceitos acima emitidos a respeito das fainas de imersão e emersão, dizem, naturalmente, do submarino característico da primeira metade do século, no qual predominou a configuração do casco duplo*. Atualmente, a tendência dos submarinos é a do casco resistente único, ou casco simples, de superfície hidrodinâmica em forma de gota d'água, o que, comparativamente, resulta em maiores deslocamento e calado na superfície. Dessa forma, a imersão e a emersão são obtidas basicamente com o emprego adequado das máquinas, dos lemes e dos tanques internos de compensação e trimagem. |
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